Damares e o terror

A ex-ministra Damares vive de contar histórias toscas. A professora de Filosofia Márcia Tiburi afirma que a ex-ministra tem um discurso pedófilo.

Damares mostra prazer em contar, com detalhes sórdidos, histórias de terror, adora assustar crianças. Não basta a ela dizer que há tráfico de crianças – precisa falar em verdadeiras torturas a que seriam submetidas. Curioso é que a história que ela contou no púlpito da Assembleia de Deus da Fama, em Goiânia é muito parecida com a lenda da internet da Boneca Viva, que circulou há mais de doze anos no fórum 4Shan (leia four shan), reduto de criadores de fake news. (Será, ela mesma, uma shanner – uma frequentadora desse site?)

A única diferença importante entre as crianças sequestradas da Damares e as bonecas vivas do 4Shan é que as crianças transformadas em bonecas vivas da lenda do 4Shan também teriam os membros substituídos por braços e pernas de plástico... Talvez a ex-ministra tenha considerado menos impactante, ou melhor, menos sexual: arrancar dentes para o sexo oral e dar comida pastosa para o sexo anal fala mais diretamente às perversões guardadas a sete chaves no coração.

Essa lenda fica bem contada nos fóruns perversos de adolescentes mal resolvidos. Talvez, nas mesas de bar, quando todos os outros assuntos acabaram – ou como piada de extremo mau gosto, para causar constrangimento no churrasco, ao ser contada pelo tiozão sem noção de civilidade.

Outra coisa que impressiona no discurso de Damares é que foi contado dentro de uma igreja, na frente de crianças. Estas são facilmente impressionáveis, ainda mais quando uma “otoridade” (sic) toma a palavra em um lugar respeitável - ou, pelo menos, que deveria ser respeitado. Imaginem o pavor que toma conta dessas crianças. Quantas delas foram perguntar a seus pais o que seria “sexo oral” – aliás, nem devem ter perguntado. Certamente, recorreram a algum primo ou colega mais “sábio”. Enfim, o próprio uso da palavra SEXO já garante a ideia de pecado, crime, perigo.

Márcia Tiburi ainda ressalta que “perversos falam diante de outros sobre sexo porque gozam com o medo no olhar do outro”. Por isso, falam de um “sexo bizarro e torturante”. "O outro é reduzido a objeto, à coisa, à presa no discurso do perverso, ele mesmo um predador psíquico e moral." Damares não só tem prazer falando de sexo bizarro; ela choca os adultos, e enche de pânico as crianças, ao traumatizá-las.

Damares, assim como outros de sua laia, transforma as igrejas de Deus em espaços para falar do Mal – um Mal que vive em sua própria mente.